20/07/10

A book a day keeps the doctor away: Wit — Ensaios Humorísticos, Robert Benchley

Estreia em Portugal do humorista Robert Benchley (1889-1945), a quem “os mestres chamavam mestre”. A afirmação é de Ricardo Araújo Pereira e vem no prefácio de Wit — Ensaios Humorísticos.
Trata-se de uma deliciosa colecção de textos curtos que podem ser lidos ao gosto do leitor. De trás para a frente, do meio para trás, na diagonal, em modo saltitante ou até por ordem. No total são 72. Multiplique-se 72 por dez boas gargalhadas e eis uma ideia aproximada de quantas vezes se terá de dobrar o riso. Os mais sisudos, naturalmente, poderão apenas esboçar o movimento dos lábios. Mas nem os absolutamente sérios deixarão de sentir cócegas.
Um aviso: este livro não é para quem aprecie piadinhas picantes, trocadilhos com fruta ou se ache “engraçadinho”. Este livro tem “wit”. Espírito. Benchley pega num tema — arte moderna, febre dos fenos, finanças, crianças, táxis, vitaminas ou átomos… — e discorre sobre ele com liberdade infantil, a que junta umas consideráveis pitadas de ironia elegante e adulta.
Um arranque típico: “Entre os movimentos menos vistosos e menos interessantes em prol do melhoramento da espécie humana, é de referir a nossa intensiva campanha levada a cabo no Uganda para a eliminação do mosquito tchato-tchato, ou mosca-caranguejo de Hassenway. O mosquito tchato-tchato (ou mosca-caranguejo de Hassenway) assemelha-se à mosca tsé-tsé, inclusive no hífen. É uma mosca minúscula, de traços simples, e foi descoberta pelo Dr. Ambercus Hassenway quando ele andava à procura de outra coisa.”
Além de escrever, Benchley foi também actor. O humor foi-lhe reconhecido cedo, em Harvard, onde estudou. Mais tarde assinaria colunas, entre outros, na “Vanity Fair”, “Life” e”The New Yorker”. Passou por Hollywood (onde How to Sleep ganharia um Óscar). E se profissionalmente a sua vida não foi fácil, divertiu-se à grande ao lado de Dorothy Parker, com quem partilhou a Algonquin Round Table. Wit nunca lhe faltou.

Wit — Ensaios Humorísticos, Robert Benchley, 2010, Tinta-da-China, trad. de Júlio Henriques

1 comentário:

Rui disse...

Mete-me cá um inveja, este Senhor.