29/01/08

Não tenho pedalada para isto. Nos próximos dias é só música e já vão com sorte [com 2 acrescentos que «isto» anda mesmo, mesmo acelerado]

Não sei se é do jogging viril do primeiro-ministro se do abaixamento para 5% do IVA dos ginásios mas que este país acelerou, acelerou.
Uma pessoa distrai-se e, num ápice,
correm a pontapé com uma vintena de ilegais, aos quais de nada serviu terem encalhado na Culatra, ilha onde são todos emigrantes, já foram ou pelo menos o pai. A medida de repatriamento portuguesa não passou, porém, de uma operação singela quando comparada com a enérgétique proposta de Nicolas Sarkozy, essa sim, capaz de pôr em sentido todos os chicos-espertos demasiado tisnados: mostrem lá o ADN e provem que têm familiares em França (e pergunto eu: será que os neocolonialistas do petróleo têm avós enterrados nos poços?).
O ADN não é tudo. Em Agosto passado, em Argenteuil, o presidente da câmara (também do UMP) já fora assaz criativo: nada de varrer misérias para debaixo da carpete. Assim, mandou
pulverizar os locais onde se reuniam os sem-abrigo da cidade com um desinfectante nauseabundo e só interrompeu a medida porque os trabalhadores camarários se recusaram ao serviço e houve quem tivesse o bom senso de recordar outras limpezas.
A propósito de tisnados. Não pude deixar de reparar nos traços tão pouco arianos do novo
suspeito encontrado pelos McCann, o que levou o Senhor Comentador a comentar, com claríssima clarividência, que «se esse homem é inocente, eu sou a Cicciolina. Não pode ter uma cara mais culpável. Se não sequestrou a Maddie com certeza é culpado de outros crimes hediondos». Pela parte que me toca, tive de concluir que os argumentistas do casal andam a perder qualidades.
De volta à política caseira, continua a saga do encerramento do país pelo (agora ex) ministro da saúde. Neste particular, foi curiosa a reacção do
nosso Primeiro, ainda antes de ser conhecida a causa clínica da morte do bebé da Anadia, indignado com o que chamou um aproveitamento mesquinho e oportunista do caso, em declarações de cavo fundo humanista.
Vá lá saber-se porquê, ao vê-lo esganiçar tanto a voz, veio-me à cabeça o fácies daqueles condutores que, culpados de um acidente, saltam das viaturas aos berros e de peito aberto ao mundo. (No caso posterior, protagonizado pelo INEM e por duas cooperações de bombeiros,
o acidente já tinha acontecido; a dificuldade parecia estar em que alguém se fizesse à estrada.)
[PRIMEIRO ACRESCENTO: os aviões, esses, terão mesmo cruzado o céu azul de Lisboa...]
Mais coisas. Recente foi a prescrição de um dos 23 crimes de que foi acusada Fátima Felgueiras, facto que li em resumo apropriamente titulado «
Começaram os Milagres de Fátima». Faltam 22.
Quanto ao julgamento
Casa Pia, a coisa continua a correr... com calma, meu, com calma.
E ainda. Assim que me lembre, as declarações do Bastonário da Ordem dos Advogados que já explicou que não é bufo nem polícia. A
bra-se mais um inquérito, abra-se! Pim!
O nosso Primeiro, fazendo jus ao apelido, declarou a propósito: “Eu não sei nada sobre o que ele pretendia dizer”, frase cuja profundidade socrática não é preciso ter um curso incompleto de filosofia para perceber. Será Marinho, Sebastião? O país está em suspenso.
Outra notícia, para acabar com a saga nacional. Um inquérito trouxe a público conclusões extraordinárias: os professores são a profissão em que os portugueses mais confiam e os políticos as criaturas que mais apupos lhes merecem.
A nível mundial os resultados não diferem muito.
E assim vai o mundo. Sem fitas mas com algumas remodelações [E ISTO É OUTRO ACRESCENTO]
Deprimido com o post?
Anime-se. Podia ser bem pior. Podia, por exemplo, acontecer-lhe como ao ex-chanceler social-democrata alemão Helmut Schmidt, 89 anos, fumador, e à sua mulher Loki, 88, fumadora, que tiveram de esperar até tão provecta idade para serem
denunciados à polícia por uma organização de vigilância e pressão de não-fumadores .
É por isto que eu digo sempre: antes aldrabão que fascista. E vive la Suisse Libre!

14 comentários:

Joana Lopes disse...

Sim, mas hoje a pedalada foi grande!
Um abraço

Táxi Pluvioso disse...

É bom o inquérito. É uma expressão democrática. Tal como é o seu resultado, ou seja, o arquivamento.

Passei por um há pouco tempo e, a folha A4, feita em computador, que me enviaram, parece coisa de criança de infantário, em vez de bófia adulto, bem fardado e remunerado.

Tive para devolvê-la ao Cavaco, inqurindo se esse era trabalho de um país moderno, com quadros electrónicos e lojas do cidadão informatizadas, mas desisti.

Ele já me tinha arranjado o inquérito, a partir da exposição que lhe fiz, onde expressamente disse que não era uma reclamação, que concordava 100% com a utilização de métodos ilegais pela polícia, para retirar criminosos das ruas.

Os fins justificam sempre os meios, disse eu, para evitar perdas de tempo. Mas ele, teimoso, mandou abrir o inquérito. E, claro, a polícia arquivou-o.

Luis Eme disse...

pudera, com uma "ginga" dessas...

Armando Rocheteau disse...

Que venha a música enquanto esperamos pelos posts.

Ana Cristina Leonardo disse...

Armando, parece que ficaste sozinho a defender o homem (nem o Sócrates lhe valeu). Terá a burguesia vencido mais uma vez?
E isto não é dar-te música.

Anónimo disse...

Na ilha da Culatra são todos imigrantes ? explique lá isso melhor que eu só tenho a quarta classe tirada à noite.

Ana Cristina Leonardo disse...

Chico da ilha, estava por aqui, respondo já.
Isso da quarta-classe tirada à noite não serve de desculpa (e sempre há aquele progama das novas oportunidades).
O que eu disse foi:
ilha onde são todos emigrantes, já foram ou pelo menos o pai
(e até podia acrescentar: em Marrocos, por exemplo)

Anónimo disse...

Que blog pretensioso e pedante... Típico de jornalistas desocupadas e macilentas que preenchem o vazio da sua vida com opiniões bestas

Ana Cristina Leonardo disse...

Anónimo, isso do macilento deve ser do tabaco... quantas vezes me digo: ana, tens de parar de fumar, é péssimo para a pele.

Anónimo disse...

Na verdade vivo há 53 anos na Ilha e nunca ouvi dizer que gerações anteriores vieram de Marrocos. Talvez ignorância minha. Mas como você é uma pessoa muito instruída deve ser verdade. Quanto às novas oportunidades tenho aproveitado bem, consegui que me dessem (embora pagando) uma licença para covos e alcatruzes.

Ana Cristina Leonardo disse...

Oh Chico da Ilha, leia lá melhor. Onde é que eu disse que a sua família era descendente de marroquinos?

Anónimo disse...

"ilha onde são todos emigrantes, já foram ou pelo menos o pai."

Anónimo disse...

O que eu quero dizer é que na Ilha não existe tradição de imigração. Mas os espanhóis já compraram e continuam a comprara muitas casas na ilha a preços exorbitantes, podemos dizer que estamos a assistir a uma invasão de espanhóis endinheirados.

Ana Cristina Leonardo disse...

Muita gente da Culatra, assim como de Olhão, teve de emigrar durante décadas. Para o Brasil, EUA, e nos anos 40 e 50, até para Marrocos... Somos um país de emigrantes. Só isso.
(Nota: muito folgo em ter um leitor da Culatra)