MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Desafinação outonal»
« (...) Integrado nas comemorações deste ano dedicadas ao nascimento do poeta – dizem que passaram cinco séculos e, pelos festejos, o que seria se não tivessem passado…! –, tal lançamento veio colmatar uma falha de peso. Pois se estávamos até agora impedidos de apreciar o imaginário pictórico que a epopeia camoniana despertara em Valter Hugo Mãe, o que por si só seria de lamentar, muito mais pobres ficaríamos sem a leitura do prefácio assinado pelo prolixo vate (referimo-nos, claro, ao desenhista e não a Luís de Camões, que se limitou quase só a fazer versos).
Entretanto, ainda decerto inebriada pela delicadeza dos desenhos ilustrativos, de fazer inveja a qualquer ilustrador, ou mesmo pintor que se preze – vão buscar, Almada, Pomar e tutti quanti –, sonhei (ando a lembrar-me imenso dos sonhos e ainda nem entrámos na hora de Inverno…) que, no lugar dos costumados enfeites natalícios, as árvores de Natal deste ano eram decoradas, não com bolas, anjinhos ou estrelinhas, mas com delicadas miniaturas do poeta que no meu sonho balouçavam desoladamente ao vento. A ideia resultara de um concurso aberto pelo Ministério da Cultura em altura incerta. (...)
«... Mortifiquei-me a procurar 'Camões, o verdadeiro'. A maior dificuldade esteve, de princípio, em remover o entulho debaixo do qual jazia sepultado. Até me arrojar, em seguida, a demolir os túmulos grandiosos, mas de todo bizantinos, das biografias, romanceadas com o propósito cândido de engrandecer o homem, supondo que melhor exalçavam o poeta, foi um drama. Ao fim de tudo, a minha convicção é que o 'Camões real', esse que viveu, amou, penou, está tão longe do 'Camões fabuloso' como o ovo dum espeto... »
ResponderEliminarAquilino Ribeiro, "Luís de Camões" - Fabuloso*Verdadeiro. "Introdução". Ensaio (1950)
O Mestre Aquilino!
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