Fui há uns dias surpreendida pela notícia. Joana Varela, directora da Colóquio Letras, revista editada pela Gulbenkian desde 1971 (e disponível online desde Maio), foi dispensada do cargo de directora e convidada a participar num futuro Conselho Editorial. Considerando o «convite» uma despromoção, não aceitou.
Depois de 25 anos a trabalhar na Fundação foi ameaçada com um processo disciplinar.
«[...] fui convidada ontem a mais uma despromoção pelo administrador Marçal Grilo, [...] antigo ministro da Educação [...] a pertencer a um futuro Conselho Editorial de uma futura revista da Fundação, a dirigir certamente por alguém mais do seu agrado e menos incómodo. [...] Não aceitei a “oferta” do ex-ministro da educação e fui convidada a sair do seu gabinete, depois de ser ameaçada com um processo disciplinar.»
Depois da ameaça, seguiu-se o processo propriamente dito:
«No dia 6 de Novembro de 2008, a Administração da Fundação Calouste Gulbenkian tomou conhecimento que, nesse mesmo dia, a Sra. Dra. Joana Morais Varela, Directora da Revista Colóquio Letras, enviou uma comunicação a todos os trabalhadores da Fundação, ao próprio Conselho de Administração e aos colaboradores externos e consultores da Instituição.
Essa comunicação contém diversas afirmações e expressões de carácter injurioso, dirigidas aos diferentes membros da Administração [...] Dado que este comportamento representa uma grave infracção disciplinar, a Administração da Fundação não pode permitir que o mesmo deixe de ter as inevitáveis consequências, sendo assim forçada a determinar a abertura do competente processo disciplinar [...] com vista à aplicação da sanção que se mostrar adequada e na qual desde já se declara incluir-se o despedimento com justa causa.
Para instrutor do processo é nomeado o Sr. Dr. Pedro Furtado Martins, advogado [...]
[...] A circunstância de a infracção disciplinar ter sido praticada de modo reiterado [...] aliada ao facto de não ter sido materialmente possível elaborar de imediato a nota de culpa, justificam ainda que, desde já, se determine, nos termos e para os efeitos do artigo 417.º do Código do Trabalho, a suspensão preventiva da Sra. Dra. Joana Morais Varela, sem perda de retribuição e das demais condições inerentes ao exercício das suas funções.»
Agora a coisa corre e Joana Varela poderá, ou não, vir a ser despedida: a Fundação Gulbenkian já perdeu.
Mas "perder" já se transformou numa espécie de "bolsa" que a Fundação dá à Gulbenkian.
ResponderEliminarAh, é verdade, esquecia-me: boa noite!
Li por aí num blog (não me recordo em qual) o termo apropriado a estas situações - workjacking.
ResponderEliminarTambém estou a ser vítima deste fenómeno, felizmente com menores dimensões: ainda não fui despedida porque a tentativa de processo disciplinar ficou-se pela fase de inquérito. E aquele é o meu local de trabalho apenas há 16 anos...
Coisas dos tempos modernos...
A causa é a mesma (job for the boys), o desenrolar dos processos vão variando...
fui sujeita ao workjacking pela primeira vez já lá vão uns 18 anos. desde aí o fenómeno nunca mais parou de se aprimorar
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