MEDITAÇÃO DE SEXTA: «O ano de todos os perigos»
«(...) Se por aqui – algures perdidos num cenário ratado ora pelo calor, ora pelo frio e sempre pela desertificação: um “deserto de almas” despojado de jovens e de arquitetura high-tech, sem Antonioni nem críticas ao capitalismo – não se sente o cheiro a napalm pela manhã, isso não significa que não estejamos a par das notícias. Apesar de resguardados dos males maiores do mundo – bem ou mal, as couves e as batatas continuam a crescer nas hortas e as galinhas a pôr ovos (pese embora as investidas das raposas…) –, não seremos poucos no monte a aguardar, tal como em Washington, D.C., Londres, Paris, Moscovo, Pequim ou Kiev, a tomada de posse de Donald Trump a 20 de Janeiro, o Presidente escolhido pelos norte-americanos que nos vem deixando em suspenso a todos.
Para voltar ao inquilino eleito da Casa Branca – como não registar a ironia da História? Já nem falo da esperança cultivada no pós-guerra de que o futuro seria sempre a melhorar. Já nem falo do fim do colonialismo e dos vivas às independências e ao termo dos impérios coloniais. Já nem falo das certezas de tantos de que, derrubado o muro de Berlim, agora é que era! O mundo suspenso na actuação futura de Trump, se a uns enche de alegria, aos outros devia impor, não tristeza e achaques, mas humildade e espírito crítico. Sobretudo, devia impor a conclusão de que isto – a vida, a História, o tempo – não só é irrisório, mas também bastante mais confuso do que pensávamos. (...)»
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