MEDITAÇÃO DE SEXTA: «PECAR POR PALAVRAS»
«Voltando à actualidade, se a reescrita da obra de um escritor levanta problemas éticos e estéticos — afigurando-se-me que introduzir alterações à sua revelia é moralmente bem mais desprezível do que proibi-lo — (...) a censura vocabular não se esgota na protecção dos cândidos infantes (e já que falámos de Voltaire…) que nunca viram um gordo.
James Bond, o agente que gostava de mulheres curvilíneas e de martinis batidos, não mexidos, também está na calha. As novas edições dos seus livros — que assinalam os 70 anos das aventuras do agente secreto criado por Ian Fleming — excluirão, por exemplo, a palavra negro que será substituída por pessoa negra ou homem negro. A revisão, feita a pensar nos “leitores sensíveis”, manterá, no entanto, as referências menos abonatórias a asiáticos ou mulheres bêbedas.
Naturalmente, a pergunta que logo nos ocorre é por que raio “leitores sensíveis” querem ler James Bond. A outra é mais abrangente: como descrever um crápula por palavras sem ofender ninguém, excepto eventualmente um crápula? (...)»
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