MEDITAÇÃO DE SEXTA: «É CARNAVAL, NINGUÉM LEVA A MAL?»
«... Foi sob o eco do poeta Sá de Miranda repetindo em voz sumida enquanto dava voltas no túmulo “m’espanto às vezes, outras m’avergonho”, “m’espanto às vezes, outras m’avergonho”, que deparei com a desova de um par de esculturas no ajardinado fronteiro à Cordoaria Nacional em Belém, no Passeio Carlos do Carmo paralelo ao Tejo. Um homem e uma mulher — dedução circunscrita a uma apófise em forma de rabo-de-cavalo já que ambas as figuras se apresentam amordaçadas —, obra de 3,5 m de altura por 1,5 m de largura cada, tudo em aço inox impermeável à ferrugem conforme à localização ribeirinha necessariamente aquosa, e intitulada Heróis da Pandemia.
A estatuária foi encomendada pela Ordem dos Médicos — que assim pretendeu homenagear a entrega e tenacidade dos clínicos durante o flagelo de Covid 19 —, acomodada em espaço público cedido pela Câmara Municipal de Lisboa, e descerrada em cerimónia que contou com a presença de meia dúzia de políticos ou aparentados.
Sem mais delongas e que — próximos do Entrudo — me consintam a muleta em brasileiro autêntico: Eita! Vixe Maria! (...)»
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