MEDITAÇÃO DE SEXTA: «APONTAMENTOS À MARGEM DA GUERRA»
«As mulheres (...) resistem melhor à realidade. Os homens andam aos tropeções na solidão das casas, deprimem, as mães mortas.
Ao homem – não é L. – falta-lhe a mãe, a mãe com que preenche as frases de todas as conversas. A minha mãe, lembra o homem a propósito e a despropósito da chuva que demora, da eira desaparecida, do forno do pão a precisar de restauro, dos terrenos férteis junto ao rio, da criação que teimosamente mantém a custo do custo galopante das rações, dos alimentos e da lenha que apanhou e oferece. A mãe pequenina, mas rija, rija, recorda.
No fim não era nada, um corpo ‘prá ‘li incapaz de se mover da cama, o Alzheimer levara-lhe o juízo, a ela, e a ele a mãe, explica o homem. Ao homem – uma alma simples (morreu-lhe um pato afogado…) com um coração do tamanho do mundo – falta-lhe a mãe e as putas. Um problema varrido para debaixo do tapete durante o longo período da pandemia, as “meninas” recolhidas em parte incerta.
Homens sozinhos sem bússola que substituem pelo álcool, companheiro fiel do tempo vazio. Um equilíbrio que se mantém, precário, enquanto há um patrão e trabalho por cumprir, mas que logo desfabula mal as horas se confundem na recidiva dos dias.
Às mulheres é-lhes mais fácil entreterem-se com coisas importantes.(...)»
Li a crónica no jornal em papel, gostei das palavras sobre o Sr L, não é fácil lidar com pessoas assim, é preciso paciência e empatia e boa vontade e sempre tendo de estar alerta ao modo como se fala, uma palavra ou pormenor, um tom de voz estranho pode ter consequências, eu acredito que se houver um fundo de bondade num L e o respeitarmos ele não se vira a nós, mas nunca fiando...
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