A MEDITAÇÃO DE SEXTA: «AS BOAS INTENÇÕES»
«Creio que foi no livro onde se reúnem as conversas travadas entre Marguerite Yourcenar e Matthieu Galey durante longos anos (De Olhos Abertos, Relógio d’Água, 2011) que li, apadrinhada pela autora do extraordinário A Obra ao Negro, a seguinte ideia: temos a obrigação moral de morrer menos estúpidos do que nascemos.
Yourcenar dizia-o, claro, de modo mais sofisticado, decerto mais luminoso. Trata-se de um propósito nobre. Tanto mais nobre, quanto inútil. Porque quando pensamos estar quase, quase, mesmo quase a ficar menos estúpidos (ou seja, mais gregos e socráticos…), Bumm! Crash! Palft! FIM e lá vamos nós navegando Lethes fora com a Ceifeira ao leme.
O facto de a sabedoria não ser transmissível de pais a filhos é porventura a prova maior de que isto da Natureza não é coisa tão perfeita como pintam. Ciclos de vida que se repetem a uma velocidade exasperante de tão lenta, sem, pelo menos que se dê por isso, escapar ao eterno retorno, quando não em movimento retrógrado ou, para recorrer a justo estrangeirismo, séculos e séculos a transitar du pareil au même enquanto o Sol arrefece. Torna-se cansativo. (...)
Voltemos a Yourcenar (...). Apesar da lentidão da espécie, diz-nos ela, há que morrer menos estúpido. O que passará, suspeito, por refrear ímpetos, regrar o voluntarismo e conseguir ver para além da árvore, o mundo. E que não nos preocupemos demasiado com o abandono de princípios. Como também escreveu: “É no momento em que rejeitamos todos os princípios que convém munirmo-nos de escrúpulos” (Alexis ou Tratado do Vão Combate, Difel, 1988).
Por fim, uma última pergunta: Nancy Pelosi já passou dos 80, não passou?»
Num encontro de trabalho com pouco açúcar usei esta máxima da Yourcenar fazendo, obviamente, referência a si e ao seu texto. Só li as Memórias de Adriano. Vou comprar este Alexis que deve ser genial.
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