Nunca fui à Suíça. Também nunca fui ao Luxemburgo. No Luxemburgo
dizem-me que é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha
do que um luxemburguês ter sido lá nado e criado. Mais de 30% da
população é de origem estrangeira e cerca de 16% portuguesa, o que
talvez explique o facto de o 1º-ministro ter contratado uma empresa do
Luxemburgo para lhe atender os telefones
da casa de São Bento, na eventualidade de alguém lhe querer falar - e
eu sei lá, há gente capaz de tudo! –, milagre da globalização e milagre
do ajuste directo, neste caso à We Promote, detida pela Sociedade
Comercial Silvas (Primos), S.A., detida, por sua vez, pela Finanter
Incorporation, que, por sua vez... mas eu não sou de intrigas e também
me chamo Silva: voltemos à bucólica Suíça.
Como dizia, nunca lá
fui. Um amigo brasileiro com quem fui há muitos anos a Paris antes de eu
ter ido com ele a Paris foi sozinho à Suíça. Louro e de olhos azuis,
mais louro do que um suíço louro e com os olhos mais azuis do que um
suíço de olhos azuis. Na altura, imperava a ditadura brasileira e o meu
amigo vivia na Europa como refugiado político. Quando chegou à fronteira
da Suíça, os suíços foram muito simpáticos porque pensaram que ele era
um suíço louro & tal mas mal olharam para os documentos
sentiram-se ludibriados porque ele era um selvagem brasileiro vindo do
Rio Grande do Sul! Engavetaram o sorriso suíço e mandaram o meu amigo
tirar as malas do carro. O meu amigo obedeceu civilizadamente e eis
senão quando dá pelos guardas suíços com as manápulas enfiadas nos
pertences, manuseando cuecas, camisolas interiores (por causa do frio da
Europa...), lâminas de barbear e panfletos anti-fascistas. O meu amigo
achou aquilo muito pouco civilizado e pensou em invocar a Convenção de
Genebra. Lembrando-se que haviam sido os suíços a inventar o J dos
passaportes judaicos, pediu-lhe que calçassem luvas. Os guardas,
respeitadores da Lei, calçaram as luvas, vasculharam o que tinham a
vasculhar e em seguida desmontaram peça a peça o carro do meu amigo que
era um Mini amarelo no qual muitos anos depois, mas isso os suíços não o
poderiam saber, haveríamos de ir os dois a Paris.
O meu amigo
ficou com um grande pó aos suíços, incluindo o Alain Tanner que tinha
feito “A Cidade Branca”. Eu o suíço de que mais gosto é do Robert
Walser. E pronto. Para a semana talvez fale da Dinamarca, onde também
nunca fui, mas que já me descreveram como sendo um país muito civilizado
onde se matam girafas.
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