30/09/11
29/09/11
28/09/11
27/09/11
Aleluia, irmãos! As forças do Mal foram esconjuradas! Aleluia irmãos! Benditos os que falam HTML e... sigam os posts!

In the end, a conjunção de vários astros peritos em HTML acabaria por vencer as hostes demoníacas e trazer de novo a Luz a este estabelecimento.
22/09/11
Eduardo Pitta descobriu que, afinal, Sócrates não era o salvador da pátria... e em seguida foi comer profiteroles
Coisa de bárbaros e o resto é conversa: Troy Davis foi morto hoje
Às vezes me espanto
15/09/11
Por estas e por outras é que eu [ainda] gosto deste país...
13/09/11
A book a day keeps the doctor away: "O Segundo Avião", Martin Amis
Os artigos sobre o 11 de Setembro escritos por Martin Amis entre 2001 e 2007 surgem reunidos neste volume sob o título de O Segundo Avião. A estes se acrescentam dois contos: “No Palácio do Fim”, onde o autor de Money imagina a vida dos duplos do filho de um ditador, e um outro que recria “Os Últimos Dias de Muhammad Atta”, terrorista que morreria no embate do primeiro avião com as Torres Gémeas.
As duas ficções optam por encenar escatologias em que a fantasia fecal dá bem ideia do que Amis pensa sobre o assunto: a “bomba na retrete” no caso de “No Palácio do Fim”; “a incontestável fúria das (…) entranhas”, em “Os Últimos Dias de Muhammad Atta”.
As posições do escritor inglês são incómodas. Não poupam ninguém. Não poupam a Al-Qaeda, não poupam bin Laden, não poupam Bush, não poupam Blair, não poupam Chomsky. Para além disso, o homem escreve bem que dói.
“Em Movimento com Tony Blair”, apontamentos de viagens em que o escritor/repórter acompanha o ex-primeiro-ministro, é um tratado de inteligência, ironia e domínio do ofício: “Testemunhamos os discursos triunfais e ouvimos os aplausos, mas normalmente não vemos o momento de feroz deleite político, o profundo e duradouro contentamento da vindicação: eu sempre tive razão! Num outro castelo, o de Hillsborough (o postigo da rainha em Belfast e ocasional lugar de pernoita de Bush), houve outro desses, quando Blair teve uma serena meia hora com o titubeante Teddy Kennedy e o temível Peter Hain. A História — o imprevisto sem remorsos — conspirara por uma vez na vida com o desejo deles, e era tudo muito comedido, neste perdoável regozijo, tudo muito sussurrado e enrouquecido e duramente alcançado.”
Recordamos a escrita viril de Bellow, mestre de Amis, e sentimos uma saudade imensa dos bons textos jornalísticos.
Dez anos passados do 11 de Setembro, O Segundo Avião é a forma adequada de assinalar a data. Submersos pela crise, esse dia parece-nos cada vez mais longínquo e a paranóica War on Terror terá dado lugar a temas mais prementes.
Há, contudo, um antes e um depois do 11 de Setembro — assim como há um antes e um depois da Queda do Muro de Berlim. Amis di-lo com clareza: “O 11 de Setembro deu-nos um planeta que quase nem reconhecemos. Em certo sentido veio revelar o que já ali estava (…) desde o colapso da União Soviética: a inédita preponderância de uma única potência. Revelou também o há muito estabelecido mas crescentemente dinâmico ódio ao Ocidente entre as nações islâmicas, um ódio muito exacerbado pela relação que a América mantém com (…) Israel (…). Além disso, como todos os ‘atos de terrorismo’ — que facilmente e sem subjectividade alguma se podem definir como violência organizada que toma por alvo os civis — (…) foi um ataque à moralidade: sentiu-se um défice geral. Quem é que, a 10 de setembro, esperaria estar pela altura do Natal a ler uns nada escandalizados editoriais no Herald Tribune acerca dos prós e dos contras de se usar a tortura nos ‘combatentes inimigos’? Quem esperaria que a Grã-Bretanha renunciasse à doutrina do não-primeiro-uso do nuclear? O terrorismo mina a moralidade. Além disso, também mina a razão” — sendo próprio da razão distinguir tolerância de relativismo, compreender de aceitar. É isso que Amis faz.
Martin Amis, O Segundo Avião, 2011, Quetzal, trad. de Jorge Pereirinha Pires
12/09/11
11/09/11
Eu não queria falar do 11 de Setembro mas dado que a imbecilidade ainda não deixou de me indignar...
10/09/11
Falta de ar
“A morte é uma puta”, desabafou António Lobo Antunes quando sentiu a morte a rondá-lo. A eutanásia seria, assim, uma espécie de puta de luxo, nos antípodas da ceifeira cadavérica retratada pelos Monty Python em O Sentido da Vida.
O argumento mais usado pelos defensores da eutanásia relaciona-se com a questão do sofrimento inútil, chegado o momento em que a expressão “enquanto há vida há esperança” perde sentido. Os opositores (deixando de lado a contestação religiosa…) invocam sobretudo o precedente aberto pela sua descriminalização.
Neste assunto, como em outros, Esquerda e Direita divergem. A última quase sempre por razões de fé, a primeira invocando razões de autonomia: o direito a uma morte digna.
Posso perceber ambas. Mas, lá pelo meio, algo me escapa: o fascínio pela legislação da Esquerda.
O Estado que tudo controla. O que se come, o que se bebe, o que se fuma… A vida privada cada vez mais enredada em regras, normas, artigos, regulamentos e adendas.
Algures pelo mundo, burocratas paranóicos vão ajustando a realidade aos seus delírios — dos babás ao rum que já não podem levar rum, às colheres de pau que passaram a ser de plástico. Interrogamo-nos: que raio de tipos serão estes que se lembram de criar leis sobre tais coisas?
O resultado está à vista: não andamos mais felizes. A paranóia alarga os seus tentáculos e um italiano é preso na Suécia por dar uma estalada ao filho; enquanto isso, as redes de pornografia infantil somem e seguem (a Casa Pia, topam?). Vivemos em regime esquizofrénico.
E a eutanásia no meio disto? Bom, a eutanásia é assim. Pela parte que me toca, gostaria que o Estado não se metesse na minha morte. Sei que não é simples, mas deveria bastar para começo de conversa.
09/09/11
O grau zero do pensamento ou deixem-me lá continuar de férias
08/09/11
A Parábola da Agulha (que para o eduquês já demos)
Longe de mim ter teorias sobre educação. Há poucas coisas, aliás, sobre as quais tenha teorias, apesar de Platão ser o meu pensador preferido pelo menos desde 1978, salvo erro, ano em que conclui que a sua Teoria das Ideias se podia resumir na boa a uma parábola contada algures por Herberto Helder.
Cito: “Levanto-me então da plateia e, por entre as metralhadoras esculpidas, conto de novo a parábola da agulha, que me obceca. Desentranhei-a de um velho manual. Trata-se de uma mulher que perdeu uma agulha na cozinha e a procura na varanda de sua casa. Acorre então o jovem que pretende ajudá-la, e pergunta: Que procura? — Uma agulha. Caiu-me na cozinha. Logo o inexperiente jovem se espanta muito e quer saber porque a procura ela na varanda. — Porque na cozinha está escuro — responde a mulher.”
Como presumo até os estudantes liceais de Filosofia saberão (supondo que ainda existam), na Caverna Platónica também fazia escuro p’ra caraças. Vai daí, o filósofo, que, como a mulher da parábola, nada tinha de parvo, foi à procura das Ideias noutro sítio.
Voltando à educação e ignorando os temas sindicais recorrentes – assunto sobre o qual “só sei que nada sei” –, o que eu gostaria mesmo era que alguém reflectisse a sério sobre isto: “Na geração que cresceu habituada às multitarefas, na era digital, os limites superiores da atenção no cérebro humano encontram-se em rápida expansão, algo que provavelmente levará à alteração de certos aspectos da consciência num futuro não muito distante, se tal não tiver já acontecido. Expandir a atenção traz vantagens óbvias, e as capacidades associativas geradas pelas multitarefas trazem vantagens espantosas; em contrapartida, poderá haver um custo em termos de aprendizagem, consolidação de memória e emoção. Não temos ainda ideia de qual poderá ser esse custo”, António Damásio, O Livro da Consciência.
Atendendo à dificuldade que há já em sentá-los (a que acresce a insistência na discussão estéril do “eduquês”), temo que o custo seja grande. E qualquer dia nem a agulha do Platão, perdão, do Herberto Helder, nos ajudará a encontrar o Norte.