
Passeio solitário, deambulação quase fantasmática, chega-nos impregnado de uma espécie de inocência ontológica que põe em causa todas as convenções (as existenciais e as ficcionais). E se ao próprio se poderiam colar os versos de Rimbaud (outro desmistificador da coisa literária) – “Par délicatesse j’ai perdu ma vie” –, aos seus textos resta a grandeza que lhe vem dessa forma de contar e dizer sem alarde, dessa atenção sem questionamento, desse olhar desarmado sobre o mundo, onde poderemos intuir desassossego (a biografia vale o que vale...) mas, sobretudo, um enorme desejo de paz.
Os Irmãos Tanner, ficção que retoma muitas das experiências reais da sua vida familiar, é uma reflexão errante e impressionista que se diz por exemplo assim, na voz de Hedwig: “Por vezes tenho a sensação de estar separada da vida por uma parede fina mas opaca. Mas não posso ficar triste, só posso reflectir sobre isso”.
E é também o texto onde Walser antevê a sua própria morte, tantos anos depois, sozinho sobre a neve (como a personagem dessa lindíssima novela de Yourcenar, Un homme obscur): “Tão nobre a sepultura que ele escolheu para si mesmo. Jaz debaixo de magníficos pinheiros verdes cobertos de neve. Não vou avisar ninguém. A natureza vela pelos seus mortos, as estrelas cantam em voz baixa em torno da sua cabeça e os pássaros nocturnos grasnam, e é esta a música ideal para quem já não ouve nem sente”.
Robert Walser, Os Irmãos Tanner, Relógio D’Água, 2009
Li-te sim senhora, mas não me apeteceu ir à fnac da Guia, nem pôr os butes em Portimão para ir ao «café dos loucos».
ResponderEliminarfallorca, ao Sul?
ResponderEliminarFui... mas já me recuperei :P
ResponderEliminarAcompanho há algum tempo o seu blog que aprecio muito. Gosto especialmente de ler as suas recensões. Assim hoje permita-me chamar a atenção para um livro que chega por estes dias às livrarias de um escritor do qual gosto: "Ernestina" de José Rentes de Carvalho. Li-o na edição já rara da Escritor e para mim tem o cunho de um grande escritor.
ResponderEliminarEspera que não leve a mal esta publicidade por causa alheia, mas tenho pena que JRC não seja mais conhecido em Portugal.
Continuarei a ser leitora atenta dos seus posts.
Saudações
Marisa
Gostaria de corrigir:" Espero que não leve a mal..."
ResponderEliminarMarisa
E corrigiu, fez o gosto
ResponderEliminarUm livro que vou ler logo que tenha tempo.
ResponderEliminarAchei que A Rosa, O Salteador e Jakob von Gunten já me chegavam, mas desde há uma semana fazes-me pensar em voltar ao gajo.
ResponderEliminarMarisa, vou tentar ler.
ResponderEliminarrui g., fazes bem.
Paulo, eu cá gosto do Walser todo