Joaninha Toma uma Decisão Depois do Jantar e Nós Ficamos a Saber Qual Foi.
– Qual foi o quê?
– A decisão.
– E o jantar?
– O jantar foi bife com batatas fritas.
– Ah!
Então, um dia, o dia mesmo antes de fazer sete anos, depois do jantar Joaninha tomou uma decisão, que é uma coisa que também se pode tomar durante o pequeno-almoço, ou a outra hora qualquer. Não é como os remédios. Aliás, para se tomar uma decisão nem é preciso estar doente. Basta que deixemos de ter dúvidas e passemos a ter certezas. Por exemplo, se perguntarmos ao lanche:
– O que é maior? Um hamster ou um elefante?
Claro que o elefante é de certeza maior, mesmo se o hámster for crescido e o elefante tiver acabado de nascer, até porque os elefantes bebés pesam 125 quilos e os hámsters nunca passam muito de 1 quilo, mesmo quando já são adultos.
Mas, voltando a Joaninha que, parece-me, não tinha hámsters. Nem elefantes, julgo eu.
«Não quero fazer sete anos!», eis a decisão que Joaninha tomou eram quase nove da noite, já tinha comido o bife e estava na sobremesa. Tinha agora de avisar os pais, para não comprarem as velas. Como a mãe não estava em casa (tinha ido ao jardim passear o Pata Branca), Joaninha foi ter com o pai à cozinha onde ele levava a loiça:
– Pai, estive a pensar… Eu não quero fazer sete anos!
– O quê? – perguntou o pai, porque com o barulho da água não a tinha percebido.
– Não quero fazer sete anos!
– Ora, que disparate!
– Não quero, não quero e não quero!
– E onde é que foste buscar uma ideia tão maluca?!
Joaninha ia responder que não tinha ido a lado nenhum buscar a ideia maluca porque ela estava muito bem, obrigada, dentro da sua própria cabeça, quando a mãe chegou da rua e o pai – crac! – partiu um prato.
– Lá partiste outra vez qualquer coisa! – disse a mãe.
E o pai disse:
– Para a próxima lavas tu a loiça!
E a mãe disse:
– Era só o que faltava! Eu faço o jantar, tu lavas a loiça!
E a Joaninha percebeu que iam começar naquilo do filme! notícias! filme! notícias!, só que desta vez ia ser loiça! jantar! loiça! jantar! e resolveu ir para a cama sem sequer lavar os dentes.
No outro dia de manhã, antes de fazer anos, porque só tinha nascido às cinco e meia da tarde, Joaninha tentou convencer a mãe:
– Mãe, não quero fazer sete anos!
A mãe, que estava – nhac! nhec! – muito distraída a comer os seus cereais, quase que se engasgou:
– Glup! Não queres fazer sete anos?!
– Não, não quero!
– Mas que ideia tão sem pés nem cabeça! Pois se já fizeste seis... Não podes saltar para os oito assim de qualquer maneira. Isso seria batota!
– Mas eu não quero fazer sete anos! – insistiu a Joaninha.
– Oh! Joaninha! Mas toda a gente faz anos.
– Então, eu não quero ser gente!
E foi, então, que aconteceu uma coisa extraordinária.
Zás! Trás! Pás!
Joaninha transformou-se em PEIXE!
Ora, acontece que os peixes só respiram debaixo de água, o que não sendo uma coisa tão extraordinária como Joaninha ter ficado coberta de lindas escamas azuis, também não deixa de ser fantástico. Como é que eles conseguem?
(...)
Joaninha, a menina que não queria ser gente, Ana Cristina Leonardo (texto); Álvaro Rosendo (ilustracões), Gradiva Júnior
– Qual foi o quê?
– A decisão.
– E o jantar?
– O jantar foi bife com batatas fritas.
– Ah!
Então, um dia, o dia mesmo antes de fazer sete anos, depois do jantar Joaninha tomou uma decisão, que é uma coisa que também se pode tomar durante o pequeno-almoço, ou a outra hora qualquer. Não é como os remédios. Aliás, para se tomar uma decisão nem é preciso estar doente. Basta que deixemos de ter dúvidas e passemos a ter certezas. Por exemplo, se perguntarmos ao lanche:
– O que é maior? Um hamster ou um elefante?
Claro que o elefante é de certeza maior, mesmo se o hámster for crescido e o elefante tiver acabado de nascer, até porque os elefantes bebés pesam 125 quilos e os hámsters nunca passam muito de 1 quilo, mesmo quando já são adultos.
Mas, voltando a Joaninha que, parece-me, não tinha hámsters. Nem elefantes, julgo eu.
«Não quero fazer sete anos!», eis a decisão que Joaninha tomou eram quase nove da noite, já tinha comido o bife e estava na sobremesa. Tinha agora de avisar os pais, para não comprarem as velas. Como a mãe não estava em casa (tinha ido ao jardim passear o Pata Branca), Joaninha foi ter com o pai à cozinha onde ele levava a loiça:
– Pai, estive a pensar… Eu não quero fazer sete anos!
– O quê? – perguntou o pai, porque com o barulho da água não a tinha percebido.
– Não quero fazer sete anos!
– Ora, que disparate!
– Não quero, não quero e não quero!
– E onde é que foste buscar uma ideia tão maluca?!
Joaninha ia responder que não tinha ido a lado nenhum buscar a ideia maluca porque ela estava muito bem, obrigada, dentro da sua própria cabeça, quando a mãe chegou da rua e o pai – crac! – partiu um prato.
– Lá partiste outra vez qualquer coisa! – disse a mãe.
E o pai disse:
– Para a próxima lavas tu a loiça!
E a mãe disse:
– Era só o que faltava! Eu faço o jantar, tu lavas a loiça!
E a Joaninha percebeu que iam começar naquilo do filme! notícias! filme! notícias!, só que desta vez ia ser loiça! jantar! loiça! jantar! e resolveu ir para a cama sem sequer lavar os dentes.
No outro dia de manhã, antes de fazer anos, porque só tinha nascido às cinco e meia da tarde, Joaninha tentou convencer a mãe:
– Mãe, não quero fazer sete anos!
A mãe, que estava – nhac! nhec! – muito distraída a comer os seus cereais, quase que se engasgou:
– Glup! Não queres fazer sete anos?!
– Não, não quero!
– Mas que ideia tão sem pés nem cabeça! Pois se já fizeste seis... Não podes saltar para os oito assim de qualquer maneira. Isso seria batota!
– Mas eu não quero fazer sete anos! – insistiu a Joaninha.
– Oh! Joaninha! Mas toda a gente faz anos.
– Então, eu não quero ser gente!
E foi, então, que aconteceu uma coisa extraordinária.
Zás! Trás! Pás!
Joaninha transformou-se em PEIXE!
Ora, acontece que os peixes só respiram debaixo de água, o que não sendo uma coisa tão extraordinária como Joaninha ter ficado coberta de lindas escamas azuis, também não deixa de ser fantástico. Como é que eles conseguem?
(...)
Joaninha, a menina que não queria ser gente, Ana Cristina Leonardo (texto); Álvaro Rosendo (ilustracões), Gradiva Júnior
Tirou-me as palavras da boca:
ResponderEliminarhttp://blogscraps.blogspot.com/2008/12/j-agora-uma-sugesto-para-o-natal.html
Queria apenas deixar um pequeno comentário a partir do breve excerto que aqui leio. Joaninha faz aquilo que, habitualmente, "a gente" não considera um comportamento de criança: toma uma decisão, decide algo. Negar as conceitos da gente sobre as crianças não será a melhor forma de resistir a "ser gente"?
ResponderEliminarmanuel, sem querer rejeitei o teu comentário sobre cobranças e não me deixam defazer o comando. Se fores a http://www.gradiva.pt/Comocomprar.asp
ResponderEliminarenviam com cobrança pelo correio
Ana, não percebi bem o teu comentário mas olha que as crianças fartam-se de tomar decisões. Por exemplo, não calçar os sapatos, não comer a papa, não dormir quando dá jeito aos adultos...
ResponderEliminarF, temos, pois, para a troca
É verdade, Ana. As crianças fazem coisas como as que refere. Parece-me é que raramente nos referimos a isso como "decisões"; é a percepção que tenho. Parece-me que falamos em "dedicir" (no sentido de deliberar, pensar em consequências, etc.)como se fosse algo mais "sério", que só os mais crescidos fazem, e que marca a passagem para uma outra idade. No fundo, talvez seja mais fácil, em certas situações, catalogar as acções de uma criança como "resultado de birra" ou "teimosia", e não como "decisões", porque assim se demora menos tempo a pensar. Dito de outro modo, assim tem-se menos trabalho a tentar compreender aquilo que as crianças realmente desejam e pensam...
ResponderEliminarEu contribui há uns meses. As raparigas lá de casa gostaram
ResponderEliminarO link não funciona (pelo menos para mim)
ResponderEliminarEste sim:
https://www.wook.pt/livro/joaninha-a-menina-que-nao-queria-ser-gente-alvaro-rosendo/202788