

Não se trata de uma biografia. Aliás, logo no «Prefácio à Edição Portuguesa», Jappe deixa isso bastante claro: «(...) a perspectiva historiográfica, biográfica e anedótica é um aspecto meramente secundário nesta obra. A sua preocupação principal reside na análise teórica, na busca das fontes do pensamento de Debord, na demarcação do seu posicionamento em face da teoria marxista e na comparação com outros autores seus contemporâneos».
Ensaio de reflexão política, portanto, que deixa de fora aspectos mais ligados ao «Debord poeta», a sua leitura pressuporá algum conhecimento do pensamento do teórico e cineasta francês que fez da contestação uma forma de vida, mesmo se não podemos deixar de considerar seriamente a advertência lançada por José Bragança de Miranda, em texto que lhe é dedicado: «(...) pelo menos desde há 20 anos se tem vindo a fazer com Debord o que já tinha sido feito a McLhuan. A sua redução a uma fórmula: a sociedade do espectáculo, metonímia de Debord, como o TIDE é a metonímia dos detergentes».
Conseguirá Debord subtrair-se a essa integração? O homem a quem o Maio de 68 tantas palavras de ordem deve e que até ao fim recusou submeter-se (suicida-se aos 64 anos driblando a morte que a doença lhe pressagia), militante marginal cuja obra completa acabaria publicada na conceituada Gallimard, membro do movimento artístico/político Internacional Situacionista dado a cisões, solitário mergulhado no mundo, megalómano e visionário – acabará, também ele, reduzido a celebridade hollyoodesca, triturado pela lei do espectáculo da qual, segundo o seu sombrio Comentários sobre a Sociedade do Espectáculo (1988), já não parece haver saída?
Anselm Jappe é, claramente, um admirador do homem e da obra, tentando, neste ensaio, sublinhar a actualidade das teses de Debord, que o tempo não teria caducado. Apesar disso, estamos longe de um elogio acrítico, de um panegírico militantemente «Guy The Bore», como lhe chamaram em tempos, num registo provocatório que talvez o próprio pudesse subscrever, os membros (anónimos) do Luther Blissett Project. Leia-se, pois.
Guy Debord, Anselm Jappe, Antígona, 2008
(As capas foram roubadas aqui)
Fixo-me na expressão "movimento artítico/político". Voo para além da gralha ou com ela e falho-me também no acto. Artítico em vez de artístico ou de artrítico? Não aspirarão todos os movimentos artísticos a desarticular a moda que serve ao espectáculo da crítica e a alimenta? Ou seja, não serão todos eles... artríticos?
ResponderEliminarAbençoadas gralhas!...
apesar de ter abençoado a gralha, vou corigir
ResponderEliminarNão coriga: corrija, simplesmente!
ResponderEliminarFreud, Freud...
isto hoje está mal!
ResponderEliminaraté já estou com medo de clicar em «publicar o comentário»
Não é motivo bastante (creio) para se (neologisticamente) haraquirar (Santo Houaiss que me perdoe!).
ResponderEliminarAhahaha
ResponderEliminar"[o espectáculo] é o sol que não tem poente, no império da passavidade moderna."
ResponderEliminarNão sei se "passavidade" é gralha, mas se for é uma gralha admirável.
"posiocionamento"
ResponderEliminaresta é gralha claro.
mas eu não mudava o "passavidade", acho que traduz melhor o que o debord queria dizer
Isto agora tem ratings? Acho que inaugurei então. Dei 4 estrelinhas a este, nada mau.
ResponderEliminarvejo que tenho leitores atentos...
ResponderEliminarTom Waits em conferência de imprensa. Todas deviam ser assim!
ResponderEliminarA par da editora Antígona, gerência do pantagruelesco escalabitano Oliveira de boa-sorte, o blogue 2+2=5 tem sido, sem falsas modéstias, o arauto irregular e ateu da imensa revolução posta a mexer por Guy Debord, de quem PH. Sollers, o maestro-editor da Gallimard que fez tudo para lhe publicar as obras completas,diz e sublinha, " ser o último dos metafísicos do séc.XX ".
ResponderEliminarA cena cultural portuguesa tem destes paradoxos: são os médias mais intrincadamente " feitos " com o sistema neo-liberal-ilegal-despótico, a par do " caixote-do-lixo do capital" , a Universidade, que se " atrevem " a vender gato por lebre, a tentar contrabandear conceitos e afectos, assumindo, cinicamente, aquela pose tantas vezes denunciada por Debord: " A teoria- em torno da Sociedade do Espectáculo- deve ser perfeitamente inadmissível. Todos os que querem destruir esta sociedade, devem formular uma teoria que a explique, fundamentalmente. Será necessário que possa declarar mau, perante a estupefacção indignada de todos que o acham razoável, o centro do mundo, devido ao facto de o ter analisado na sua mais íntima estrutura. A teoria do espectáculo responde a estas duas exigências ". Salut! FAR
gralhas decapitadas.
ResponderEliminarquanto às estrelinhas (tão espectaculares) não sei como tinham aparecido na Pastelaria mas já foram à vida.