07/10/07

António Gancho (1940-2006)

My work/ is prose and poetry/ but I like more Rose/ than dinasty./ My Rose/ is mine/ and dinasty/ I have no one./ Poetry only/ is my dinasty/ my work/ but I like prose too/ when I am with Rose/ comprennez-vous?
Fotografia de Miguel Carvalhais

2 comentários:

  1. " eu sou mil escritores " disse um dia António Gancho, entre muitos foi Michaux, Kafka, Rimbaud e por ai... Grande poeta, um dos meus loucos preferidos, não tanto pelos seus poemas, mas mais pela sua própria história de vida, aos vinte anos de idade numa tentativa frustrada de se suicidar com o fio de um telefone é internado num hospício onde passou o resto da sua vida e onde viria a morrer... apresentado aos portugueses pelas mãos do GRANDE Herberto Helder António Gancho continua ainda a ser um dos grandes poetas portugueses por descobrir, e como gosto mesmo muito de alguns dos poemas deste senhor deixo aqui um pequeno presente...

    SOBRE UMA MANHÃ QUALQUER

    Manhã de ouro lhe poderíamos chamar se de ouro fora a primeira manhã
    Adão inconfessado, e nada saberemos da primeira manhã
    se afinal de ouro se afinal de prata.
    Ainda possível ter sido de estanho?
    A primeira manhã assim imaginada estanho e a cena desenrolar-se-á
    com maçãs de estanho, aves de estanho, rios de estanho...
    Adão não seria de estanho?
    Adão inconfessado, e nada se saberá da manhã original.
    A primeira manhã, a primeira luz, a primeira vida, a primeira lua
    Tu, querida, o desejarias saber, o sei,
    era teu desejo saber de que material fora a primeira manhã!
    Evidentemente que (e aqui já cansaço a obcecar a caneta)
    evidentemente que dizia
    etc., etc.
    e a respeito da primeira manhã afinal
    que não interessa sabê-lo.
    Olha, morre como o cigano, o pior é ires à escola.
    Ah, os poetas são decididamente afectados.
    Que raio de ideia esta de saber da primeira manhã?
    Londrina a de hoje, e basta para tomar um excelente duche quente
    com a água a pôr fervura na pele
    e mais nada.
    Da primeira manhã, Adão que se faça poeta e no-lo diga que metal.

    António Gancho, in "o ar da manhã" assírio & alvim, 1995

    abraço, Hugo M.

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  2. Miguel, sem querer imitar a Amália: obrigada! obrigada! obrigada!

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