19/08/07

A Propósito de Torga, que não Tem Culpa NenhumaULPA NENHUMA

Estava eu, displicente, a folhear jornais antigos (mas não demasiado), quando dei com um texto assinado por Carlos Fiolhais no «Público» de 17 de Agosto. Afirma aí o conhecido físico que a polémica sobre a ausência de membros do governo no centenário de Torga «é uma perfeita tontaria, que nem mesmo a silly season justifica». Tendo eu Carlos Fiolhais em boa conta, fui lê-lo. Fiquei a saber que a 24 de Junho, aquando do lançamento do Espaço Miguel Torga em São Martinho de Anta, um projecto de 1,7 milhões de euros assinado por Souto Moura, o governo tinha-se feito representar em peso e em força. E fiquei a saber mais: que a 12 de Agosto (dia da polémica), foi apenas inaugurada em Coimbra uma casa-museu, orçada na modesta quantia de 324 mil euros, «em cujo quintal a câmara quer construir um Centro de Estudos Torguianos». Não tenho nada contra quintais nem contra Carlos Fiolhais (esta parte já tinha dito), mas, espicaçada pela sua posição, fui tentar saber quanto é que Torga, afinal, tinha nascido. A Wikipédia refere que Adolfo Correia Rocha veio ao mundo a 12 de Agosto de 1907. Naturalmente, não sei se posso confiar nas datas referidas, por todos os motivos e mais aqueles que recentemente envolveram um computador oficial e oficioso que alterou o texto da Wikipédia sobre Sócrates. E andava eu já esquecida destes factos, quando, a propósito de Jack Kerouac e dos 50 anos de publicação do «On the road», tropecei neste delicioso diálogo do filme «Honeysuckle Rose», para o qual Willie Nelson assinou a música «On the road again»:
«Bo: Anybody on this bus got a college education?
Lily Ramsey: I do; just graduated in June.
Bo: Good. Then you can get up and get us a beer.»

Esquecido Torga, regressei a ele em memória de Sócrates, e depois larguei os dois e vi-me n' «O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam», do qual saltei quase de imediato para o adorável poema de Borges: «Yo, que tantos hombres he sido, no he sido nunca, aquel en cuyo abrazo desfallecía Matilde Urbach». Já em vertigem, e temendo que o poema do cego argentino me conduzisse em excesso de velocidade à metafísica do sujeito e aquelas temíveis perguntas «Quem sou», «De onde venho» e «Para onde vou», cortei cerce o pensamento que me levaria a Régio, de Régio a Alegre, de Alegre a Torga, de Torga a Sócrates... Enfim, um pesadelo.

10 comentários:

  1. É que não há meio de acertares com a côr... Leopardo, pela tua rica saúdinha, esta não!

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  2. Este humor e erudição só se encontram em quem estudou Filosofia.
    No hard feelings.

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  3. hard feelings a que propósito? por não haver tequilla? eu ainda não cheguei ao estado do cônsul. uma noite sem tequilla aguenta-se na boa. quanto à filosofia, essa é que nos trama

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  4. Quem estudou filosofia já n estuda? Hummmm! Adoro pensamentos circunscritos.

    Tenta o cinzento (o fundo, claro) q da forma tratam os a-filósofos.

    Sirod

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  5. sirod, não se sintas fora da conversa. traz um copo de qualquer coisa e diz de tua justiça. mas depois não te queixes se não puderes circunscrever-te.

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  6. A ironia n faz parte da filosofia? Ou é só mesmo o humor? Ah!... circunscrições, circunscrições...
    A piada era para o post de AR. A sugestão de cor, para ti (salvo seja), para a página.

    Sirod

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  7. sirod, estás a circunscrever-te. vai lá buscar o copo.

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  8. Eh! Eh! Que é como quem diz: "Cala a boca, Bárbara!"

    À nossa!

    Sirod

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