A pequenina Madeleine McCann está desaparecida há demasiado tempo. Da acusação inicial de negligência aos pais, ainda antes de se conhecerem os contornos do caso, passou-se quase imeditamente à piedade pelos mesmos. Os 100 metros que mediavam o restaurante do apartamento encurtam para 50 e a seguir aparece escrito «ao lado». Entretanto, os McCann, católicos convictos, vão a Fátima, onde o bispo local entrega o caso às mãos de Deus e não promete milagres, e ao Papa. Uma onda de solidariedade cresce e ganha dimensões gigantescas. Não há quem não faça apelos pela menina. Surge um arguido, Robert Murat, imediatamente linchado na imprensa, como, por exemplo, no «Correio da Manhã», que afirma despudoradamente: «PJ ainda (?) sem provas contra Murat». O caso de Madeleine ressuscita o caso dramático de Rui Pedro (e de outras crianças portuguesas desaparecidas). Durante dias e dias, os telejornais abrem com a notícia do rapto... sem que tenham nada para dizer. E há um dia, na Holanda, em que a questão da negligência é colocada em cima da mesa, com todas as letras, por uma jornalista. A pergunta cai mal. As críticas à actuação da PJ, com grande visibilidade na Grã-Bretanha, são reproduzidas com cautela entre nós. O interesse pelo caso esmorece mas não morre. Há poucos dias, os holofotes regressaram à Praia da Luz, reeditando o circo mediático que vem rodeando o caso, com a maioria dos jornais e televisões a oscilar, tola e pateticamente ao sabor do vento, sem que, da parte da imprensa, se note nenhuma de três coisas: objectividade, investigação independente, perguntas certas. A PJ, bem ou mal, fecha-se em copas, reproduzem-se informações de «fonte segura» e, na realidade, apenas de especula. Os contornos rocambolescos do rapto, que todos pareciam aceitar inicialmente, dão lugar à morte, por acidente ou não, de que os pais serão suspeitos críveis. Pois bem, foram-no desde o princípio, como o seriam sempre em circunstâncias semelhantes. E, de tudo isto, resta uma tragédia, a de Madeleine. A tragédia sabe-se onde mora. No corpo de uma criança de 3 anos deixada a dormir ao lado de dois irmãos de 2 anos, por pais que saíram para jantar fora com amigos e que, culpados ou não, serão sempre responsáveis. Mas onde estiveram, e continuam a estar, os jornalistas?
Dos jornalistas já nós sabemos... andam sempre à cata de sangue independentemente das circunstâncias e da idade da vítima; colocam um ar choroso como se as mortes violentas fossem uma inevitabilidade da vida e nada haja q se possa fazer contra, perpetuando o senso comum (eles, aliás, são o senso comum). Da PJ esperemos q o silêncio tenha fundamento. Quanto aos pais, tens razão, qualquer q seja o resultado, são já culpados; foram-no logo de início, como dizes, reincidiram com o peluche q trazem na mão e as fitinhas q penduram no cabelo... Falta saber se, no fim, se revelarão os grotescos palhaços do circo...
ResponderEliminarSirod
Sirod, eu disse responsáveis, não culpados. Por mais inocentes que sejam, ou não.
ResponderEliminarSim, de facto, responsáveis é bastante diferente de culpados. E tiveste o cuidado de falar em responsáveis. Reconheço a necessidade de salvaguardar que as palavras NÃO são sinónimas (por isso sugiro q no post anterior se leia RESPONSÁVEIS em vez de culpados). Contudo talvez se possa falar de responsabilidade culposa. Depende do grau de consciência de cada um. Mas essa é outra discussão.
ResponderEliminarSirod
Não sou tão severo. É claro que os pais são responsáveis, e como nos policiais o mordomo, os primeiros suspeitos. São responsáveis por negligência, mas quem nunca cometeu erros primários na vida que atire a primeira pedra. Não acredito que sejam os culpados. A hipótese mais verosímil parece-me a do raptor pedófilo. Isto não invalida que não sejam suspeitos desde a primeira hora.
ResponderEliminarOnde eu disse "a do raptor pedófilo" devia ter dito "de um raptor pedófilo".
ResponderEliminarSobre o espectáculo circense é a mesma coisa que a guerra do golfo. Como diria o Baudrillard: "a guerra do golfo nunca aconteceu".