MEDITAÇÃO NA PASTELARIA

19/04/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Abril, Memórias Mil (III)

 «Foi só muito depois da burlesca perseguição na Estrela que o pide seria encontrado por acaso dentro de um elevador que subia do r/c para o 6.º andar de um edifício de escritórios ali para os lados do Campo Grande.

“Sabes com quem partilhei agora mesmo o elevador?” Não quis acreditar. Cruzava-me com ele todos os dias.
Jovem liceal que abandonara os estudos, o próprio brincava com o seu aspecto de agente da polícia política. Costado precocemente arcífero que a ossatura descarnada acentuava, antes de partir ajustava o cinto da gabardine num gesto que, anos passados, invertido mas não pervertido, me faria lembrar as fraldas do Gros Dégueulasse de Reiser ou as gabardines abertas dos exibicionistas hirsutos de Vilhena, e em pose bogardiana casablanquista embora de cabeça descoberta, o que deixava bem à mostra a proeminência auricular que o caracterizava, declamava fazendo uma paragem pernóstica, perfil a três quartos: “Pareço mesmo um pide, não pareço?” (...)»
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05/04/24

MEDITAÇÃO DE SEXTA: «Abril, Memórias Mil»

«(...) E, entretanto, estão prestes a passar 50 anos. Um dia, a festa acabada há muito – porque não há festa que sempre dure – o meu pai contava-me que se cruzara com três pides ao balcão do café perto de casa. E eu perguntei: “E o pai, o que fez?” E ele respondeu: “Ora, o que fiz? Estou velho. O que querias tu que fizesse? Eu era um, eles eram três. Vim-me embora e não paguei a bica.”»

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