29/02/12

Post roubado despudorada e integralmente a Luís M. Jorge

Entre as luminárias do regime resplandecem os espíritos sempre airosos dos Camilos Lourenços. Enquanto outros encontram dificuldades, os Camilos revelam-nos em palavras simples os bons princípios da nossa salvação.
Há dividas? Paguem-se.
Há despesas? Cortem-se.
Há défices? Ide buscar o cilício e mortificai-vos.
Há desemprego? Emigrem.
Há pobres? Trabalhem.
Há fome? Comam brioches.
Há mulheres que tentam vender os filhos nos subúrbios? Pois que baixem o preço dos mais pequenitos, a quem faltam vantagens competitivas.
Há suicídios, mortes por inanição? Eis um modo elegante de reduzir as transferências sociais.
Há velhos sem medicamentos? Um sério aviso para os jovens que não aderiram à Médis.
Há ordenados muito baixos nas empresas? Extingam-se.
Há ordenados muito altos na EDP? São as leis do mercado, nada a fazer.

O mundo dos Camilos obedece a valores testados em séculos de miséria abjecta e desespero universal. Antigamente eram feitores e capatazes, hoje são jornalistas e lideres de opinião.
Os Camilos Lourenços dão imenso jeito. Todos os ricos deviam ter um.

DAQUI, com a devida vénia

Naoto Matsumura, o último fumador da zona proibida de Fukushima [uma história para amantes de cigarros]


This is the story of Naoto Matsumura, Tomioka City, Fukushima Prefecture, Japan–the last man standing in Fukushima’s Forbidden Zone. He will not leave; he risks an early death because his defiance of Tokyo Electric Power Company (TEPCO) and the government is his life now. He is not crazy and he is not going. He remains there to remind people of the human costs of nuclear accidents. He is the King of The Forbidden Zone; its protector. He is the caretaker or empty houses, a point of contact for those citizen who can’t return. He takes care of the animals, “the sentient beings”, that remain behind because no one else will. He is the Buddha of the forbidden zone.
(...)
Despite his white hair and mustache, Matsumura looks like a Hollywood actor.He smokes twenty “Mild Seven” cigarettes a day: “I buy cigarettes when I go out of the forbidden zone from time to time. I like smoking. If I quit smoking now, I may get ill!”

O resto da história aqui.
Resumo em português aqui.

28/02/12

“Em Fevereiro, tem Carnaval”

"O mês do ano em que os políticos dizem menos disparates é Fevereiro porque Fevereiro só tem vinte e oito dias" (Coluche, Paris 1944-1986).
Tal afirmação adequar-se-á, peut-être, ao país que inventou o croissant, o surrealismo e os saltos compensados de Nicolas Sarkozy, mas, por cá, manifestamente não cola. Em Fevereiro, a coisa correu entre nós rotineira.
O PS, inflado de patriotismo, interpelou firme e construtivamente o Governo sobre Olivença, cidade onde o alcaide inimigo prepara uma “megaprodução” comemorativa da infame Guerra das Laranjas (cada um tem as Malvinas que pode…).
Muito embaraçado terá ficado Paulo Portas, tanto mais que o MNE, logo no dia 1, havia nomeado (Decreto nº24/2012) Jaime Van Zeller Leitão embaixador não residente da (sic) “República do Kuwait” (e ainda falam das Novas Oportunidades…), a que se seguiu (a ordem é arbitrária) a pungente declaração de Assunção Cristas, ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (em suma, das gravatas…) revelando estar à espera que chova!
Fevereiro foi também o mês em que o jovem João Pinho de Almeida, ex-Presidente da Juventude Popular, ex-Presidente do Clube de Futebol “Os Belenenses” e actual Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do CDS-PP (é o que se chamaria deslocalizar-se de cavalo para burro…), lançou o grito viril “Mobilidade ou Rua!”
Fomos também informados em Fevereiro que os cidadãos saudáveis que teimem em não ir ao médico durante três anos serão “expurgados” das listas de médico de família (ou adoecem ou morrem…); quanto à explicação para a crise surgira uns dias antes: batendo todos os 13 países inquiridos, 68% dos portugueses dizem fazer sexo duas ou mais vezes por semana.
Haja saúde!

22/02/12

Para acabar de vez com as PRESIDENTAS

«(...) desculpem lá mas, como MULHER, já me enjoam estas conversas feministas de pacotilha que só denotam complexos de inferioridade mal resolvidos. As palavras não têm sexo, têm género, a língua constrói-se e evolui por tradição e não por qualquer conspiração masculina imaginária. Aliás, diz-se a língua "materna" por alguma razão. Desde que os nossos mais remotos antepassados começaram a balbuciar as primeiras onomatopeias que a língua é transmitida por via feminina. Mais, se realmente o género das palavras tivesse alguma coisa a ver com sexo, porque raios "autoridade" seria do género feminino? Quanto à terminação "ente", ela não é feminina nem masculina: é neutra. Para ser masculina seria "ento" e, nesse caso, teríamos "presidento" e "presidenta", "doento" e "doenta", "estudanto" e "estudanta". Com a terminação "ente" a palavra é invariável no género e é o artigo que a precede que lhe atribui o género: o doente ou a doente, o presidente ou a presidente e por aí fora. Esclarecidos? Aproveitem que eu não duro sempre!»

Importado do cara de livro, roubado a Maria Clara Assunção que assina este blogue onde também não se aplica o descabelado Acordo Ortográfico

19/02/12

Filme gore

Caro leitor, acabo de ler um livro chamado A Queda de Wall Street que traz a assinatura do norte-americano Michael Lewis e sinto-me no dever de comunicar-lhe o seguinte: a coisa foi (é) muito pior do que imaginar se possa.
Lamento não trazer boas notícias mas, amicus Plato, sed magis amica veritas, cá vai: como já cantava Paul Anka em 1968, vivemos num crazy world!
E a loucura é tanta e tão tamanha que, acabada a leitura, só me apetecia ter ao lado alguém que me segredasse “put your head on my shoulder” ou, em versão brasileira, “encosta sua cabecinha no meu ombro e chora”, clássico que chegou a ser gravado por Fábio Júnior, galã da Rede Globo um tanto brega que arrancava corações há largas décadas, não direi no tempo em que os animais falavam mas decerto no tempo em que a economia era matéria relativamente acessível a pessoas como nós.
Conclusão pós-leitura: eles andam a dar-nos música!
Dito isto, o problema (no livro e na vida real) não está tanto no facto de os ricos estarem a ficar mais ricos e os pobres passarem fome – até aí, tudo na mesma.
O assustador é que: 1. eles não sabem o que fazem; 2. nós temos dificuldade em perceber como o fazem.
Não quero complicar, mas imagine um cocktail de realidade virtual, crédito imobiliário, no limit hold’em poker, roleta russa e porta-moedas vazios.
Como mistura já parece bastante explosiva; se a isso se acrescentar que o comum dos mortais não mora no hiper-espaço nem percebe necessariamente de poker, o resultado só podia (pode) ser um big buraco negro.
Acrescento apenas isto: no livro, os melhorzinhos da história ainda foram os que previram a chegada do black hole e apostaram (ganharam) milhões na tragédia anunciada. Confused? Também eu. Aguarde-se pelos próximos episódios. Para já em grego.

18/02/12

Propagandapolitik

... e logo depois de se saber que, Gaspar p'rá frente, Gaspar p'ra trás, as contas públicas somam prejuízos de cerca de 1,5 mil milhões de euros, mais 38,5% do que em 2110, o ministro Relvas vem anunciar ao povo que os governantes não têm direito a cartão de crédito nos ministérios.


Se isto fosse um país a sério, a malta dizia-te onde podias meter o cartão de crédito...

Eu gosto do Manuel António Pina, mas acho que já o tinha dito

"Isto visto, já não digo de Alfa do Centauro mas da Lua, é completamente risível."

Ler a entrevista aqui.
Na imagem, Manuel António Pina, sem gatos.

16/02/12

Uma francesa fartou-se de ficar mais pobre para depois ficar remediada e imolou-se pelo fogo: tinha 6 filhos

... e como só me apetece empobrecer a língua com caralhadas, puta que pariu esta gentalha que nos governa mais a sua sopa dos pobres modernizada em versão take away.
Notícia em francês aqui.
Traduzida aqui.

E este puto de mierda faz sentido?

A conversa em directo, na qual a criatura, com a profundidade intelectual que caracteriza estes inteligentes, diz que "um país assim não faz sentido" e tem um orgasmo a seguir derivado ao brilhantismo da frase que lhe saiu

O conceito de MOBILIDADE, segundo o governo

O longo currículo do puto (e note-se a mobilidade que o caracteriza: depois de tirar um curso de Direito não se sabe onde e de ter sido presidente do Belenenses acaba como vice-presidente do grupo parlamentar CDS/PP — até fiquei cansada só de ler)

Como já comentei por aí no cara de libro, ultimamente, é verdade, só me apetece escrever asneiras. Eu sei que isso significa, infelizmente, um empobrecimento da língua, mas como nos mandaram ficar muito pobres para só depois ficarmos remediados, julgo que as caralhadas também farão parte de l'air du temps.
E com isto justifico o título deste post: E este puto de mierda faz sentido? (o french é só para manter o nível que o rapazola merece...)

A book a day keeps the doctor away: "A Caixa Negra", Amos Oz

A primeira edição portuguesa de A Caixa Negra data de 1990 e, entretanto, muitos outros títulos de Amos Oz foram traduzidos. Juntamente com David Grossman é, decerto, o escritor israelita mais conhecido entre nós.
Militante do movimento “Paz Agora”, que pugna pelo entendimento entre israelitas e palestinianos, isso não impediria Amos Oz de acusar de terrível cegueira moral José Saramago quando este comparou os territórios ocupados a Auschwitz.
De moral e política fala A Caixa Negra. E ainda de religião, cinismo, rancor e misericórdia. Estruturado sob forma epistolar, o romance gira em torno de um núcleo de personagens bem distintos que vão criando entre si uma teia de relações complexas sob a qual se desenham, como em caleidoscópio, os nexos sociopolíticos de uma sociedade em mutação.
Do sonho sionista inicial, encarnado na figura do pai de Alec, à criação de colunatos encetada por Sommo, judeu sefardita que, pelo dinheiro, consegue vingar social e politicamente, é também da ascensão da direita religiosa e expansionista que trata A Caixa Negra.
Amos Oz fá-lo, contudo, sem nunca ceder à tentação ideológica.
Tudo começa quando Ilana, ex-mulher de Alec, reputado intelectual de origem ashkenazi a viver no estrangeiro e herdeiro de considerável fortuna, escreve ao ex-marido pedindo-lhe ajuda para encontrar o filho de ambos, nunca reconhecido por Alec como sendo seu.
Ilana, agora casada com Sommo, homem crente de origens humildes, vai, através desse pedido de socorro, abrir uma verdadeira caixa negra, a qual, por sua vez, desencadeará, uma série de acontecimentos inesperados, simultaneamente salvíficos e catastróficos, contaminados, sempre, pela ironia da História.
A ler (ou reler).
A Caixa Negra, Amos Oz, D. Quixote, 2012, trad. de Miguel Serras Pereira

14/02/12

A propaganda anda pela hora da morte

Governo mandou fazer 100 livros e pagou 12 mil euros por ajuste directo a uma gráfica.
Está bem. Percebo que a impressão a cores melhora substancialmente a coisa, o papel couché é caro e os baixos-relevos da capa fundamentais para aprimorar a obra. Mas 120 euros por exemplar?!
Com esse dinheiro não seria melhor mandar imprimir o Goebbels' Principles of Propaganda que ainda por cima pode ser descarregado na NET?
Já agora, o livro publicado pelo Relvas vem escrito em português ou passaram-lhe o Lince por cima?

Vamos lá falar de coisas que valem a pena para variar [livros, naturalmente]

O italiano Primo Levi é conhecido, sobretudo, pelos textos que escreveu sobre a sua própria experiência do Holocausto.
Se Isto É um Homem ou As Tréguas são leituras obrigatórias para quem queira tentar compreender o que significou ser judeu na Europa (civilizada) de há pouco mais de meio século e (também) o que poderia querer dizer David Rousset, outro sobrevivente, com a frase: Os homens normais não sabem que tudo é possível.

Na sombra fica, por vezes, o facto de Primo Levi ser químico de formação e de o seu livro O Sistema Periódico (que parodia a tabela dos elementos químicos para a aplicar alegoricamente ao carácter multifacetado do indivíduo) ter sido, em 2006, considerado pela Real Academia de Londres o melhor livro de ciência alguma vez escrito.

O físico teórico Tullio Regge (Turim, 1933) é decerto menos popular junto do grande público, embora a comunidade científica lide há muito com coisas que levam o seu nome, como os Cálculo e Trajectórias de Regge. Receberia em 1980 o Prémio Einstein, e algumas das suas propostas dos anos 60 estiveram na origem e desenvolvimento da chamada “Teoria das Cordas”, modelo que, ao propor-se unificar a Relatividade e a Quântica abriria, segundo alguns, caminho a uma "Teoria de Tudo".

Contrariando as visões mais pessimistas de C.P. Snow que, em 1959, cunhou a expressão “duas culturas” para definir a dissociação entre “humanidades” e “ciências” que ele via crescer perigosamente na cultura ocidental, Diálogo Sobre a Ciência e os Homens é bem a prova que nem tudo estará perdido.

Sejamos, ainda assim, completamente honestos. Em primeiro lugar, o livro data, originalmente, de 1984. Nada nos leva a crer que, desde então, os “vasos comunicantes” entre “letras” e “ciências” tenham intensificado/mantido as trocas. Segundo, os interlocutores são, pela sua inteligência, eloquência, imaginação e curiosidade, espécimes raros. E se acrescentarmos a informação de que este diálogo resulta de um convite feito pela RAI que organizava, então, uma série de conversas sobre física dirigida ao grande público, talvez tenhamos que regressar, e mesmo duas vezes, ao “pessimismo” de Snow.

Não há muitos livros, afinal, em que, logo a abrir, uma das “personagens” diga: “Entre as coisas que tenho em comum com Primo Levi (…) há uma mania real e secreta: estou a estudar, por mim próprio, hebraico antigo. (…) Já consegui ler todo o Génesis”; ou nos quais, em comentário, a segunda “personagem” recorde a sedutora Rahab, descrita assim no Talmude: “qualquer homem que pronunciasse o seu nome imediatamente ejaculava”. E isto para princípio de conversa.

A dado passo, Regge invoca as suas experiências caseiras e confessa que “Deitava fogo a tudo. Uma reacção muito bonita era misturar anidrido arsenioso, que é algo venenoso…”; e logo Levi explicita: “É muito venenoso – é o veneno da Madame Bovary”.

Reclamam do latim que lhes ensinavam no liceo: o “latim de Cícero, cristalizado”, diz Regge; “bom para lápides”, acrescenta Levi que a Cícero contrapõe o “muito interessante” Celso que “explica como se operavam amígdalas no seu tempo”.

A conversa estende-se às respectivas famílias e origens, física das estrelas e física das partículas, religião, Borges, computadores...

Uma pergunta de Levi (que todos gostaríamos de fazer): “Porque vemos apenas três das onze dimensões?”. Um comentário (relativista) de Regge a propósito de Asimov: “uma viagem a uma velocidade superior à da luz (…) tais coisas dão-me traumas psíquicos”.

Em síntese: um livro que nos enche de vontade de aprender. E de rir.

Diálogo sobre a Ciência e os Homens, Primo Levi e Tullio Regge, Gradiva, 2012, trad. de Eduardo Lage

12/02/12

Είμαι με Grec


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E “tão-me a charengar” é português?

Se um país pode ser catalogado como “lixo” pelas mais insignes organizações internacionais, porque não decretar a língua uma oportunidade de negócio?
Que os velhos do Restelo pensem nisto: as toneladas de linguiças (sem trema) que passaremos a exportar para o Brasil valem com certeza a queda de um punhado de consoantes mudas.
Claro que o famigerado Acordo não impedirá que num ônibus (do latim, omnibus; variantes por “uniformizar”: autocarro, machimbombo, toca-toca, otocarro…) a passageira do lado me responda em inglês quando lhe pergunto se estamos muito longe do Centro, seguindo-se três oi! da parte dela para finalmente eu sair já íamos no Botafogo. (Abençoada fonética que me proporcionou tão bom passeio!)
Embora entenda o pendor mercantilista do Acordo, a que acresce uma salutar preocupação progressista que faria as delícias de Bouvard e Pécuchet (Que se lixe o latim que só serve para confundir o povo!), não pude, porém, deixar de elencar (v. tr.: “fazer uma elencagem”, seja isso o que for) algumas dúvidas recolhidas por aí.
O que faz um professor durante um ano letivo? Letiva? O que faz um espetador em frente da televisão? Espeta-la? E o que faz alguém ante um para sem acento? Continua a andar e pergunta “para… onde”? Num hotel, dirigimo-nos à recepção ou lembramo-nos da receção e regressamos a casa? E um medicamento ótico aplica-se nos olhos ou serve para tratar otites? O mês de Janeiro é maior que janeiro? A metafísica de Aristóteles é em ato ou não ata nem desata? Quem requer adoção é adoçante? E os habitantes do Egito são egícios? Uma presidente incontinente é igual a uma presidenta incontinenta? E fim de semana sem hífen tem quantos dias?
Esta última questão é particularmente pertinente derivado à crise.

08/02/12

Alguém devia explicar à Angela que a Madeira não faz parte do "espaço vital" alemão e já agora também lhe podiam servir um prato de favas acaralhadas

A Sr. Merkel, que já fora a França expressar abertamente o seu apoio ao anão Sarkozy...
resolveu agora pronunciar-se sobre a Madeira.
Se não tivéssemos um governo dirigido por um discípulo menor da referida (ou talvez nos bastasse um Ministério dos Negócios Estrangeiros que não transformasse o emirato do Kuwait na República do Kuwait), alguém já teria explicado à senhora — oficial e imediatamente — que a Madeira não faz parte do "Lebensraum" alemão e que ela devia estar calada. Que a diplomacia tem regras, as relações entre os Estados têm regras, e que isto da Europa não é o cabaret da coxa alemã.
Infelizmente, até o maior partido da oposição, PS de sua graça, fez saber, pela voz do seu representante madeirense, que ela até tem razão.

Sai um prato de favas acaralhadas para todos!

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E enquanto em Portugal tanto iluminado de "esquerda" quer mandar prender o Graça Moura no Brasil há quem ponha os pontos nos iis no negócio do Acordo

Tantas Páginas: O que acha do acordo ortográfico? Acha mesmo que, como dizem os editores portugueses (e muitos intelectuais), o acordo foi uma gigantesca maquinação brasileira para permitir que os livros brasileiros entrem livremente no mercado português e no africano, acabando com a indústria portuguesa do livro?

Paulo Franchetti: O acordo ortográfico é um aleijão. Linguisticamente malfeito, politicamente mal pensado, socialmente mal justificado e finalmente mal implementado. Foi conduzido, aqui no Brasil, de modo palaciano: a universidade não foi consultada, nem teve participação nos debates (se é que houve debates além dos que talvez ocorram durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras), e o governo apressadamente o impôs como lei, fazendo com que um acordo para unificar a ortografia vigorasse apenas aqui, antes de vigorar em Portugal. O resultado foi uma norma cheia de buracos e defeitos, de eficácia duvidosa. Não sei a quem o acordo interessa de fato. A ortografia brasileira não será igual à portuguesa. Nem mesmo, agora, a ortografia em cada um dos países será unificada, pois a possibilidade de grafias duplas permite inclusive a construção de híbridos. E se os livros brasileiros não entram em Portugal (e vice-versa) não é por conta da ortografia, mas de barreiras burocráticas e problemas de câmbio que tornam os livros ainda mais caros do que já são no país de origem. E duvido que a ortografia seja uma barreira comercial maior do que a sintaxe e o ai-meu-deus da colocação pronominal. Mas o acordo interessa, é claro, a gente poderosa. Ou não teria sido implementado contra tudo e todos. No Brasil, creio que sobretudo interessa às grandes editoras que publicam dicionários e livros de referência, bem como didáticos. Se cada casa brasileira que tem um exemplar do Houaiss, por exemplo, adquirir um novo, dada a obsolescência do que possui, não há dúvida que haverá benefícios comerciais para a editora e para a Fundação Houaiss – Antonio Houaiss, como se sabe, foi um dos idealizadores e o maior negociador do acordo. O mesmo vale para os autores de gramáticas e livros didáticos – entre os quais se encontram também outros entusiastas da nova ortografia. E não é de espantar que tenham sido justamente esses – e não os linguistas e filólogos vinculados à universidade – os que elaboraram o texto e os termos do acordo. Nem vale a pena referir mais uma vez o custo social de tal negócio: treinamento de docentes, obsolescência súbita de material didático adquirido pelas famílias, adequação de programas de computador, cursos necessários para aprender as abstrusas regras do hífen e outras miuçalhas. De meu ponto de vista, o acordo só interessa a uns poucos e nada à nação brasileira, como um todo. Já Portugal deu uma prova inequívoca de fraqueza ao se submeter ao interesse localista brasileiro, apesar da oposição muito forte de notáveis intelectuais, que, muito mais do que aqui, argumentaram com brilho contra o texto e os objetivos (ou falta de objetivos legítimos) do acordo.
Retirado DAQUI

06/02/12

Espero que Passos Coelho saiba francês e tenha lido o Tintin em pequenino. O que tenho para lhe dizer segue em baixo que eu hoje acordei escatológica

Pedro Passos Coelho, um tipo sem currículo, nem de vida nem de escola, pede aos portugueses para serem menos piegas.
Há gente que devia ser largada sozinha na selva, só para os vermos cagar-se de medo até às orelhas.


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05/02/12

Porque me irrita a indignação selectiva

Não gosto de listas. Nunca gostei de listas e não é agora que vou passar a gostar.
O conteúdo das mesmas é-me relativamente indiferente: listas de compras, de livros, listas de tarefas, de amigos, listas de intenções, listas de listas. Claro que as listas são, em acto, sempre incompletas (as listas completas podem bifurcar-se indefinidamente noutras listas). Ainda assim, há nelas um pendor escatológico que me perturba.
Talvez o verdadeiro amante de listas seja, porém, aquele que traz consigo o secreto desejo de nunca findar a lista, à semelhança (invertida) do real amante de poker que nunca deixa de sonhar fazer um dead man’s hand e levar um tiro a seguir.
Foi a esta interpretação que me conduziu, pelo menos, a frase de Umberto Eco: “gostamos de listas porque não queremos morrer”.
Dir-se-á, com certa razão, que se trata de uma frase full service. Tão banal como a própria morte ou o programa “Prós e Contras”. E se falo do P&C, não o faço movida por desígnios obscuros.
É vero que a gestualidade diligente de Fátima Campos Ferreira me deixa um pouco “almariada”. Registe-se, contudo, a favor dela, o facto de nunca nos ter brindado com um só romance histórico.
O caso é que fui parar a uma lista disponível na Net sobre os temas abordados no referido programa. O inaugural, de 14/10/2002, girava em torno da pergunta: “Os portugueses são pouco produtivos?”. O estranho é que logo na vez seguinte a questão era: ”Lisboa deve ter um casino?”
O tempo foi passando, Fátima foi ficando, e uma das últimas emissões versou Angola. Pedro Rosa Mendes não gostou, disse-o na rádio e… Trriim!
O que é que isto tem que ver com listas? É que se não gosto em geral de listas (Eco que me perdoe), de listas negras… Urgh!

Não sei quem é o pedro lains mas já me fartei de rir com o maradona

Post I (excerto)
Claro que um Pedro Lains não faz um manicómio, mas estas pessoas que dão dinheiro ao Pedro lains não para o poder ler mas para que ele possa fazer um blogue melhor, mais aqueles todos que pagam à Maya para lhe lerem a sina, em acrescento àqueles outros que pensam que o Jorge Jesus pode operar no Yannick Djalo um milagre idêntico ao que realizou sobre o Fábio Coentrão, tudo isto não contribui para que eu me convença que eu é que sou o maluco.

Post II (excerto)
Sem que eu tivesse exigido um tostão, fui informado que o post do blogue do Professor Doutor Pedro Lains linkado aqui em baixo foi entretanto modificado.

Post III (excerto)
Aqui vão os resultados da campanha de donativos deste blogue. Antes de mais, um sincero agradecimento pelo gesto dos que contribuíram. Os donativos serão usados para uma assinatura anual do Economist. Devo dizer que os resultados têm mais do que um impacto financeiro, pois os donativos criam uma certa responsabilidade que me tem obrigado a procurar escrever textos mais cuidados, baseados em leituras de documentos, relatórios ou artigos de economia e história económica, e publicados sob a categoria “estudos de estudos”. A campanha continua durante mais um ou dois meses.

[não transcrevi o nome das pessoas porque tenho consciência que as suas doações foram feitas contra-vontade, talvez até sob coação; estarão sequestradas numa cave húmida? tudo é possível, tudo é possível]


Post IV e, por enquanto, último desta série (excerto)
** desejo, à semelhança do que já fiz em outra rede social, provocar-lhes o contacto com a seguinte frase quase quase quase do José Régio: "Vão a Paris, mas não vêem um caralho à frente do nariz."

Só espero que o frio passe depressa

03/02/12

Estou com Vasco Graça Moura e ninguém tem nada com isso

1. Fizeram um acordo cujo único objectivo é vender dicionários e derivados.

2. Fizeram um acordo que está para a língua portuguesa como as leis dos burocratas europeus sobre o pão duro e os coentros estão para a açorda.

3. Fizeram um acordo que, do ponto de vista linguístico, é disparate atrás de disparate.

4. Embalados numa modernice que teria feito as delícias de Bouvard e de Pécuchet (dois homens sempre na vanguarda...), tentaram impor a ideia de que todos os que se opunham à "uniformização???!!!" da língua não passavam de reles conservadores e retrógrados, enquanto, ao mesmo tempo, complicavam grafias (algumas, agora com três hipóteses e siga o baile).

5. Vasco Graça Moura, personagem com quem não simpatizo, terá resolvido corajosamente não o aplicar no CCB (por acaso, já me tinha perguntado como descalçaria ele essa bota).

6. Perante o gesto (desobediência civil?) que só dignifica Graça Moura (e a língua portuguesa, já agora), António José Seguro foi fazer queixinhas ao Primeiro-Ministro. Gente de mierda, tão pequenina!